Pioneiras da arquitetura paranaense

O espaço e os direitos que as mulheres vêm conquistando ao longo dos anos sempre precisou de pioneiras. Na arquitetura paranaense não foi diferente. Algumas das desbravadoras da área no Estado escolheram uma profissão até então considerada masculina. Entre elas destacam-se Eleonora Beltrão Barcik e Vera Lúcia Rezende.

Eleonora Beltrão Barcik

Eleonora e a colega Teresinha Domingues de Souza foram as únicas alunas da primeira turma de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná. Elas prestaram vestibular em 1960 para um curso que ainda nem existia e cursaram os dois primeiros anos junto aos estudantes de Engenharia. Naquela época, os anos iniciais eram comuns às graduações de Arquitetura, Engenharia Civil e Mecânica.

Os alunos começaram a estudar no edifício da Praça Santos Andrade. Quando passaram para o segundo ano, foram para o Centro Politécnico, que eles chamavam de “mato”. Em meio a tantos homens (segundo Eleonora, eram cerca de 180 rapazes) elas tiveram de enfrentar até o desafio dos banheiros. “Como eram só homens não tinha nem sanitários para nós. Tivemos que solicitar ao Conselho Técnico banheiros exclusivos [para mulheres]”, lembra.

O desafio não ficou apenas por aí. O “combinado” com a Escola de Engenharia era que os alunos iriam fazer juntos o primeiro e o segundo ano básicos. “Quando fossemos para o terceiro eles iriam abrir as Escolas de Arquitetura e a de Mecânica, e a gente passaria a fazer o terceiro, o quarto e o quinto [ano separados]”, recorda Eleonora.

Mas não foi o que aconteceu. De acordo com  arquiteta, os alunos foram avisados no segundo ano de que precisariam fechar todas as matérias, sem ficar em dependência. Isso foi em 1961. “Quando chegou em fevereiro [de 1962], que era para abrir a Escola, eles anunciaram que isso não iria acontecer.”  A estudante e seus colegas não se conformaram e buscaram seus direitos, convencendo os membros do Conselho Técnico Administrativo (CTA) de que deveria ser aberto o curso de Arquitetura.

Durante uma assembleia, o CTA decidiu pela abertura de um edital que determinava que todos os engenheiros formados até aquela data poderiam também cursar e ter o diploma de arquiteto. Se houvesse um número mínimo de alunos a Escola seria aberta. Segundo Eleonora, foram 15 ou 18 os interessados, registrando número suficiente para o início do curso. Na sequência, a UFPR trouxe professores arquitetos de todo Brasil para formar o corpo docente.

Eleonora finalizou a graduação em 1964, colando grau em 6 de março de 1965, há exatamente 48 anos. Para a arquiteta, foi uma época formidável.

Arquiteta em família de engenheiros

Vera Lúcia Rezende

Vera Lúcia Rezende foi a única arquiteta a se formar  na turma de 1968. Entre a formatura dela e a de Eleonora, foram três anos sem que nenhuma mulher tivesse passado no vestibular para Arquitetura.

Vera conta que a escolha do curso foi definida por influência da família, que já trabalhava na área da construção. Ela até tinha pensado em cursar engenharia, mas quando soube da opção da Arquitetura, deciciu-se pelo curso. No início teve a companhia de mais uma colega, mas somente Vera concluiu o curso.  “Me formei sozinha, fui a única da turma. Não era uma turma grande, só uns 15 ou 20 alunos”, diz. Naquele ano, ela também foi a única mulher a se formar entre os cursos de Arquitetura e engenharia.

Uma das virtudes do curso, para Vera, é que havia uma integração entre todos os acadêmicos. “A gente fazia muito trabalho de equipe, interagindo inclusive com alunos dos outros anos, o que era uma coisa muito interessante na época.”

A arquiteta relembra que a Escola de Arquitetura sempre trazia nomes importantes para palestras uma vez por ano, entre os quais o arquiteto Oscar Niemeyer.

As duas arquitetas trabalharam em diversos projetos. Eleonora projetou prédios perto do aeroporto do Bacacheri (Jardim Almeida), feitos para a construtora CR Almeida. Depois fez os projetos de edifícios para a sede do Clube Santa Mônica, na Praia de Leste. Um dos seus trabalhos de destaque foi uma Casa de Hóspedes, anexo desenvolvido para a residência do engenheiro Cecílio do Rego Almeida, que chegou até a ser tema de estudo pelos alunos da Escola, mas que infelizmente foi demolida. Já Vera Lúcia, entre outros trabalhos, projetou diversas agências do Banco Nacional na região Sul do país.

As duas continuam em plena atividade. Eleonora trabalha atualmente como urbanista e Vera continua desenvolvendo projetos arquitetônicos.

O Paraná conta atualmente com mais de 5.000 arquitetas registradas no Conselho de Arquitetura e Urbanismo. Elas representam 64% dos profissionais do Estado.

NR.: O CAU/PR registra agradecimento especial à professora doutora Josilena Gonçalves da UFPR, que forneceu informações para esta reportagem.